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quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Dream a little Dream of me

Sono?
Quem és tu
que permeia minhas fantasias,
minhas ilusões?

Quem és tu?
Que visita todos os outros,
todas as noites,
mas não visita a mim
[Ó, doce ilusão!]

E sonhar?
O que é sonhar
castelos inexistentes,
céus de cores inconscientes?

O que é viajar
por uma outra relidade
onde nada é o que parece?
Onde tudo é o que deve ser

E viver
Ah, viver!
Ver, tocar, sentir
O que é?

O que é viver
Quando a mente se desliga,
entra no piloto automático,
inteiramente se automatiza?

O que é andar
por essas ruas frias
e sentir o mundo,
a Morte e a Vida?

Como será
sonhar à noite, 
andar sob o sol
sentir o frio e o calor?

Como será
deitar sem medo, 
sem preocupação?
Apenas
[deitar e dormir]

Como será
pensar em tudo,
lembrar do mundo,
e sonhar?

E sonhar, como é?
Sair por aí
sem riscos,
mas medos?

Encarar tormentas,
desbravar montanhas,
falar com os mortos,
revirar as entranhas

Todas as noites
me pergunto
o que é dormir?
O que é sonhar?

E a cada dia
permanece a questão.
O que é viver?
O que é sonhar?

Deve estar tudo
entrelaçado.
Costurados
como uma colcha de retalhos.

Unidos e deteriorados
Um sem o outro,
apenas cacos
Um com o outro
[vida, talvez?]

Não sei
Não durmo
Não sei de nada
Não sei dizer

O que acontece
quando saio de casa,
me aventuro na estrada.
Sem rumo nem nada

Apenas caminho
Mas não sei que caminho
Minhas pernas caminham
Só depois sei que caminho

E depois
não lembro de nada
Não lembro das escadas,
nem das almas

Tudo se perde
onde devia sonhar
E como não há
Não posso falar

Apenas deitar
e tentar sonhar
Apenas meus olhos fechar
e temer acordar


terça-feira, 30 de agosto de 2011

So You Know

Esse é especial, então não vou traduzir

When you're lost
Feeling the ghost
I'll be there

When you're down
No one around
I'll take your hand

When you cry
And want to die
I'll wipe your tears

When you feel
Madness rising
Listen to me

So you know
I'm happy with you
So you know
I'll cry when you do
So you know
My shoulder's here
To carry you in
I'll keep you near

So you know
The world is all numb
So you know
I'll show you the fun
So you know
That when you need to
Hear someone
I'll be there for you

Take my hand
I'll take you to a
Beautiful place

Stare at me
I won't let you see
Any disgrace

Don't be fool
I'll be around
All the time

Don't be shy
You can talk to me
Any time

So you know
I'm happy with you
So you know
I'll cry when you do
So you know
My shoulder's here
To carry you in
I'll keep you near

So you know
The world is all numb
So you know
I'll show you the fun
So you know
That when you need to
Hear someone
I'll be there for you

A criação (como tudo começou segundo as rezas do povo wiityf)

No início, quando tudo era nada, a união de três forças provocou uma grande explosão que por sua vez formou um enorme globo maciço, cinzento e sem vida. As três forças por lá vagaram durante anos, até que notaram o surgimento de pequenas formas no chão. Perceberam que suas poderosas presenças faziam brotar vida. Curiosas por tal fenômeno, decidiram estudá-lo com precisão.

Primeiro fizeram para si corpos com o que ali já habitava: terra, grama e água. Tornaram-se então criaturas sólidas e pacatas, vagando pelo globo e criando cada vez mais com uma paz incalculável. Estes eram os Colossos, dotados de espírito, força e inteligência. Como naquele tempo trivialidades como nomes não tinham a menor importância, nunca falaram sobre isso, mas suas crias, que mais tarde mostrariam-se curiosas e tão inteligentes quanto eles, vieram a batizá-los Ark, Egra e Ertain.

Providos de mais inteligência, os Colossos descobriram que aquele globo anteriormente sem vida era dividido em várias camadas, e na mais interior delas vivia uma criatura, a qual acreditaram ser uma quarta força, que mais tarde viria a se chamar Kotra. Kotra era quem fazia o solo tremer, afundar e se erguer. Os Colossos então passaram a se questionar se criar vida no reino daquela criatura seria sensato, e lembraram que lá já habitavam formas enérgicas antes de tomarem conhecimento do ser. Então devolveram ao solo tudo que dele tomaram: a terra, as plantas e a água. Com os movimentos de Kotra, acabaram criando-se os vales, os oceanos e as montanhas, e á medida que as plantas respiravam, o céu foi ficando cada vez menos preto e cada vez mais azul.

Os Colossos ali viveram pacificamente com Kotra, e após muito pensar repararam que não seria de mal criar outros seres pensantes. Da areia do mar Ark fez os peixes e corais; da madeira das árvores Egra fez os cães, gatos, pássaros, esquilos, minhocas e tudo mais; e do barro Ertain fez um ser grande, apoiado em duas pernas como eles, de pele dourada, quase marrom, olhos, nariz, boca e dedos. Deu-lhe então parte de sua energia, provendo-o de inteligência, e então a criatura se ergueu. Esse, acredita-se, foi o primeiro farco, que por aquelas terras caminhou ao lado dos Colossos, pensando e criando coisas como o Tempo, a Língua Falada e Escrita, os Costumes e muito mais. Até que o farco começou a se sentir solitário, pois já conhecia todos os bichos por ali, e além deles só falava com os Colossos. Assim, Ertain juntou mais um punhado de barro e fez dele um ser semelhante, porém mais esguio e delicado, e juntos seriam capazes de gerar outros seres como eles. Ark e Egra também fizeram companhias para suas respectivas criações, e em conjunto, os três Colossos fizeram do gelo outras duas criaturas, menores e tão claras quanto o manto que cobria os montes. Proveram-nos de energia e inteligência, e assim ergueram-se os primeiros wiityfs.

Farcos e wiityfs conviveram pacificamente por gerações, até que os pródigos, maiores e mais fortes, descobriram seus dons enérgicos, denominando-se superiores aos wiityfs e dominando-os. Os Colossos ainda conviveram com eles por algum tempo, mas decepcionados com suas criações, partiram e nunca mais foram vistos.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Joystick #3: Art Games at Newgrounds

Aprecio muito jogos, principalmente os feitos com o coração. Existem poucos exemplos a dar, mas entre eles vale falar de Child of Eden, Limbo e o espetacular Shadow of the Colossus. Sempre que entro nesses sites de jogos online, procuro logo pelos games mais legais, e em uma de minhas andanças pelo Newgrounds (site voltado à arte digital em geral) encontrei uma página chamada Art Games, cuja descrição era "games that were made as art". Cativou-me de cara, e ao abrir, deparei com links interessantes.


Primeiramente conferi o link no topo da lista, o curioso The Company of Myself. O título me deixou curioso, apesar de o conteúdo em si não ter me impressionado. Em seguida, fui ao próximo que mais me atraiu, Coma, e aí sim me apaixonei. A atmosfera desolada e inocente, a jogabilidade, a trilha sonora bem executada. Coma é um desses jogos que merecem o título de obra de arte, e inclusive lembra muito o aclamado Limbo, para PC e Xbox 360.

Limbo


Com um enredo simples e uma atmosfera encantadora, Coma prende qualquer jogador, mesmo aquele que não curte muito games. É interessante também tentar descobrir o que exatamente está acontecendo, já que logo no começo encontramos os dizeres "This world is a lie" (este mundo é uma mentira) escritos na parede, e a caminho da minhoca, "Wake up Pete" (acorde, Pete). Não consegui ir muito longe porque é um jogo bastante simples, tanto que é preciso prestar atenção nas dicas dos personagens e tentar descobrir os enigmas. Agora, se você acha que vai acessar a página e fazer um monte de coisas bacanas para alcançar seus objetivos, nem continue, pois tudo que pode ser feito é andar pra lá, pra cá, pular e gozar de algumas habilidades que conseguimos depois (mas, lembre-se, habilidades simples).

Pipoca&Guaraná #4: Cthulhu

(Cthulhu, EUA, 2007. Dirigido por Dan Gildark. Com Jason Cottle, Caesey Curran e Ethan Atkinson. Drama, Terror. Aprox. 2h)

Os fãs de Lovecraft que esperavam ver um filme sobre o Cthulhu Mythos devem ter ficado muito decepcionados ao deparar com essa adaptação de A Sombra de Innsmouth. Adaptação mal feita, por sinal. Nada contra a personagem principal ser gay e isso ter uma grande relação no enredo, mas foge completamente às intenções do original. Não é um filme bom para quem gosta de Lovecraft, mas pode ser agradável para quem nunca ouviu falar nele. Confuso, mas agradável, afinal, quem leu alguns contos do autor vai entender as referências claras, como quando o garoto cego fala que estão todos esperando por Cthulhu, ou os profundos que Russel encontra pelos esgotos, ou mesmo Zadok, um personagem comum para quem já jogou Call of Cthulhu.

Obviamente o filme levou muitas críticas negativas e notas baixíssimas. Muito se deve ao roteiro mal escrito e às interpretações, mas eu diria que não é de todo ruim. Os atores não foram lá tão maus, principalmente os habitantes da cidade que devia ser Innsmouth. Não, eles foram até leves, conseguindo transparecer menos insanidade. As personagens centrais também foram bem executadas, conseguindo se expressarem de forma independente. Michael, por exemplo, surpreendeu-me. Porém, muitos espectadores atacaram a película pelo fato de tentar contar uma história lovecraftiana em uma atmosfera gay. Sim, muitos falaram mal só por causa da exposta homossexualidade. Disseramm inclusive que Lovecraft devia estar se contorcendo em seu túmulo por causa disso. Acho que são todos machistas fanáticos, pois se fosse uma obra inteiramente héterossexual, ninguém jamais diria nada. Não reclamariam da cena em que Russel e Michael lembram um momento em que se masturbaram juntos, falando das meninas da escola. Não esculaxariam a cena em que Michael e Russel se beijam e subentendidamente fazem sexo. Ninguém caiu em cima de Malèna (2000) por causa da cena em que os vários garotos se masturbam em um círculo falando da profesora, mas só porque eles falavam de uma mulher. 

Tudo que posso dizer é: se você conhece o mínimo de Lovecraft, não assista. Ou assista para entender as referências, mas não ligue para o roteiro. Se você não conhece Lovecraft, nem perca seu tempo, pois vai achar uma porcaria por não entender nada. De qualquer forma, é aquele tipo de filme que eu gosto, mas não recomendo. Dúbio, não?

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Joystick #2: Silent Hill

O enredo do jogo é bem simples: encontrar a filha de Harry, Cheryl, e sair daquele lugar bizarro. Sim, extremamente bizarro. Nem falo tanto pelos monstros, e sim pela atmosfera. Para começar, o campo de visão é muito limitado, principalmente depois que escurece. Seja no começo, com o isqueiro, ou depois com a lanterna, devo admitir que sentia medo de andar por aquela cidade à noite, principalmente quando Harry caminhava e a câmera não se ajustava. Imagine ver um breu atrás dele e uma pequena piscina de luz em frente. Porém, depois que dei umas voltas pela escola, me habituei com os bichos, fui à parte maligna e enfrentei o primeiro chefe, esse medo foi rapidamente substituído por uma irritante agonia. Quando de manhã, nem tanto, mas sempre que escureceia o mapa era meu único guia. Quando a cidade fica maligna, então, o botão do mapa só faltou quebrar!


A experiência que Silent Hill proporciona é maravilhosa, e ainda mais quando a história é acompanhada. Harry, como o bom pai que é, só pensa em achar sua filha e em como ela possa estar, enquanto tudo de estranho acontece ao redor. Quando escrevi isso, ainda não tinha terminado o jogo, estava na metade do final. Então, antes mesmo de ver o final, creio que aquele médico cujo nome não lembro é o mistério mais intrigante do primeiro jogo, porque aqui em  Nowhere (em português, lugar nenhum) não imagino como ele possa se revelar. A princípio achei que ele fosse ser de alguma ajuda, até que surge novamente, tomando uma garrafa das mãos de Harry, e então some. Outro elemento que depois fica bastante compreensível é Lisa, a enfermeira. A coitada estava sempre com muito medo e dúvidas. Até que, no final, ela finalmente entende o que está acontecendo, e então rola a cena mais triste do jogo: ela, sangrando da cabeça aos pés (literalmente), pedindo conforto a Harry, que a rejeita, deixando-a trancada em uma sala. Senti um enorme aperto no coração, assim como quando tive que matar Cybil. Do nada ela fica possuída (ou como dizem os outros jogadores, vira zumbi). Há um item que a faz voltar ao normal, mas não encontrei e não faço idéia de onde possa estar, então o jeito foi correr e se virar para atirar. Depois, vê-la caída no chão, falecida, foi triste. 

Segundo o que entendi das birutices de Dahlia, Alessa é uma entidade maligna que, para se libertar, precisa de Cheryl (tipo sacrifício, sabe?). Dahlia, no entanto, não é de confiança, mesmo que convincente. Tomei conta disso quando ela surgiu após a morte de Cybil e mal tratou Alessa, sua filha, às vezes falando com ternura, e depois sumindo afirmando que ela ainda tinha que fazer uma coisa. Provavelmente tudo se encaixe no final, porque o filme homônimo, mesmo tendo muito do jogo, não possui elementos como essa distorção no caráter de Dahlia. 

Apesar de todas essas dúvidas, é um ótimo jogo com quebra-cabeças irritantes (daquele jeito que ou você realmente quebra a cabeça pra resolver e depois se sente realizado, ou, para os mais esquentadinhos como eu, vê logo no detonado o que tem que fazer). Só não aconselho para quem se assusta fácil e acha que cada ruído pode ser alguma coisa assombrosa (mas, ei, é uma cidade assombrada!), e nem para quem enjoa fácil de quebra-cabeças, pois até mesmo para onde você tem que ir é mistério! Eu não teria conseguido chegar tão longe sem a valiosa ajuda de um detonado.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

{The Prodigy} Capítulo seis


Caminhando pelos corredores do complexo mais uma vez, agora com todos aqueles fatos em mente, 57 sentiu como se aquele fosse um lugar estranho, um lugar que visitava pela primeira vez e do qual não gostava. Sentia-se mais sozinho do que nunca na imensidão daquele prédio. Sempre que olhava para algum canto, alguma sala aberta, qualquer ponto, tinha alguma lembrança de seus irmãos, de Elizabete e do Dr. Kepler, que, recordava-se aos poucos, sempre estava onde suas criações estavam. O menino conseguia lembrar inclusive do olhar maravilhado que o velho sempre fazia ao deparar com um deles ou com todos juntos. 57 sentia repulsa. Uma inexplicável repulsa.
         
Após algum tempo andando para lá e para cá, C132 conseguiu se localizar em meio a plantas danificadas e consultas esperançosas aos dados de Luz, que agora os acompanhava. O garoto achava melhor assim, como o robô mesmo disse, pois as informações que ele continha, tanto as mais visíveis quanto as ocultas e criptografadas poderiam mostrar utilidade. Já que não faziam idéia de como estava o mundo lá fora, qualquer informação, qualquer instrumento meramente usual poderia vir a ser útil.
         
O Dr. Kepler, provavelmente em um momento de desespero, segundo os relatos de C132 de que todos corriam para todos os lados ao toque de um alarme contínuo que só parou com uma explosão, não especificou para onde ia e para onde 57 tinha de ser levado. A máquina levou algum tempo pesquisando os arquivos deteriorados do sistema e as informações de Luz até encontrar referências a um laboratório em Capital, a cidade mais próxima. Apesar da vastidão do mundo, o jovenzinho não se sentia desmotivado. Precisava encontrar esse homem a qualquer custo, não importava quanto tivesse que procurar. Assim, começariam por Capital, e se ele não estivesse lá, o jeito seria recolher pistas e continuar a busca. Segundo uma das plantas que C132 conseguiu a muito custo remodelar, havia um galpão no lado oeste do complexo onde eram realizadas cargas e descargas, tanto por veículos terrestres quanto por aviões. Então, dirigiram-se para lá na esperança de encontrarem qualquer meio de chegar a Capital.
         
A série de enormes corredores que seguiram levou-os até o tal galpão, que em toda sua monstruosidade, tinha pouquíssimos veículos terrestres a vista. Enormes caixas e containeres ocupavam o lugar em diversos pontos, todos com trancas eletrônicas. Seus conteúdos não interessavam a 57 no momento, e já até imaginava que deviam ser alimentos e, em sua maioria, material de pesquisa do projeto Neo homo. Então, sem perder tempo, o trio peculiar dirigiu-se a uma fileira de pequenos caminhões de carga. C132 deu uma olhada em suas cabines pelo vidro e quebrou-os para ter acesso aos painéis. Após conferir todos, voltou-se a 57.
         
- Todas estão sem combustível, a não ser por esta. – E apontou para o carro. – No entanto, sua quantidade não é suficiente para alcançarmos Capital. Pode ser que consigamos chegar até a entrada do complexo, mas é impossível ir mais longe.
         
Aquele fato não deixou 57 abalado. Na verdade, estava tão otimista que olhou ao redor, procurando por galões de gasolina ou qualquer outro tipo de combustível. Um lugar como aquele devia ter um posto de combustível de fácil acesso. No entanto, o garoto não encontrou nada que indicasse isso.
         
- Então vamos. – disse, confiante. – Deve haver um posto aqui perto, e mesmo que cheguemos apenas até a entrada, lá deve ter uma estrada.
         
E aqui seu otimismo se mostrava mais forte, pois se antes pensava estar completamente sozinho no mundo, agora que tinha noção de que aquele lugar não era tudo que existia, talvez outras pessoas estivessem andando lá fora. C132, que não entendia a complexidade dos sentimentos humanos, apenas acessou o painel ao lado das enormes portas para abri-las.
         
Houve um ruído, e então, lentamente, uma nova luz foi entrando, invadindo os glóbulos oculares de 57. Aos poucos sua visão ia se acomodando com aquela claridade e ele ia distinguindo as formas que nunca tinha visto tão de perto. A mata, as árvores enormes (do jardim interno do complexo só conseguia ver suas copas) e até o canto dos pássaros, que ouvia pela primeira vez. Todo aquele verde foi invadindo sua mente de forma sublime, enchendo seu peito de uma inexplicável alegria. Sem que percebesse, seus lábios foram se esticando em um sorriso, e então teve lapsos de memória. Lembrava de uma floresta, e além dela, a praia, o mar. Caminhava tranquilamente por ali, acompanhado de outras pessoas. Falavam com ele sorrindo e o jovem sorria de volta, mas sempre que alguém tentava verbalizar seu nome, as palavras se perdiam no vento, como se distantes. Eram apenas ecos de letras tentando formar um nome.
         
C132 dirigiu-se ao veículo, porém, parou ao ver que 57 ia para o outro lado, em direção às árvores e à estrada de terra que se estendia. Seus pequenos pés pisaram então a terra e o menino sentiu-se livre. Olhou para as árvores, ouviu o canto dos pássaros, e olhou para cima, para o céu azul coberto por densas nuvens cinzentas que não deixavam aquele momento menos belo. O céu parecia tão maior visto dali, por entre as copas das grandiosas árvores. Era magnífico vislumbrar aquela imensidão. Sorriu mais largo, e as lembranças da floresta, da praia e do mar ficavam mais nítidas. Ouvia risos e vozes de crianças. Também ouvia a voz de uma mulher dizendo “cuidado! Não vão muito longe!”. Sentia-se tão confortável ao ouvir essa voz, mesmo que não lembrasse de quem era.
         
Ouviu então o barulho da água correndo ali próxima, e as lembranças do som das ondas do mar invadiram seus pensamentos. Via a praia, a areia clara, o vasto céu limpo e o mar de águas cristalinas. Alguém mencionou como aquilo era belo, e um cachorro latiu, correndo ao redor deles, abanando o rabo, se divertindo. Ele queria tanto se banhar naquelas águas. Por que não?
         
57 correu por entre as árvores em direção ao som da água. C132, confuso, correu atrás dele, e Luz rapidamente voou junto, passando agilmente do robô. O menino, porém, era bastante rápido, e logo alcançou um extenso rio. Sua água era limpa, mas não tão limpa quanto o mar que lhe invadia os pensamentos. Aquele som remetia-lhe ao das ondas, e então a vontade de estar ali, com a água, fazendo parte de sua existência, cresceu. Assim, tirou sua roupa, jogando-a para todos os lados, e correu em direção ao rio. Ouvia as risadas das crianças e os gritos de C132, indistinguíveis. Seus pés alcançaram a água, e então submergiram, assim como suas pernas e logo seu tronco. Estava quase no meio do rio, até que escorregou em uma pedra, afundando completamente. A corrente era forte, assim como a que o puxou para o fundo do mar. Seu corpo se debatia, os braços procurando um ponto firme desesperadamente, mas nada tocavam. E foi sendo levado pela correnteza, sentindo a água tomando conta de seu corpo.
         
Até que um braço o segurou pela cintura diminuta e o puxou para seu lado, fosse qual fosse, pois já não sabia onde era cima, baixo, direita, esquerda. Não sentia mais a água esmagando-o; sentia o vento soprando gelado, assim como ouvia vozes desesperadas ao longe, o som das ondas e o do rio correndo. E por mais que tentasse enxergar além do braço que o puxava, não conseguia. De repente tudo ficou branco.





O robô deitou o garoto ao leito do rio, sentindo um peso ao ver seu corpo tão mole, mais parecendo um boneco de pano. Posicionou sua cabeça e seu tronco devidamente e pressionou seu peito, tentando expulsar a água que se alojara em seus pulmões. Repetiu o processo até que 57 vomitou toda a água, porém continuava desacordado. Sua respiração estava bastante lenta e fraca, e ao perceber isso a máquina sentiu um desespero inexplicável. Máquinas não têm sentimentos, é o que dizem, mas C132 podia discordar, pois o que sentia não era normal. Sim, era sua missão cuidar do menino, mas nada explicava aquele desespero todo. Então, Abriu o compartimento sob seu peito e de lá retirou uma bolsa, dentro da qual havia uma seringa de ponta fina e uma ampulheta. Extraiu o líquido translúcido do frasco para o instrumento e parou, olhando mais uma vez para 57.
         
Sua memória foi invadida por visões do menino, desde que ele lhe foi entregue até agora. E seu sorriso, de todas as lembranças, era a que mais pulsava. Após ver o caos que se instalou no complexo quando se deu a evacuação, achou que o mundo estivesse acabando e que não havia esperança para os humanos, até que viu pela primeira vez 57. E antes desse incidente, quando vislumbrou seu sorriso, sentiu essa mesma sensação. Curioso. Um robô devaneando sobre sentimentos.
         
C132, então, pegou cuidadosamente o braço do jovem e inseriu a agulha em uma veia aparente, soltando a substância lá dentro. Luz pairava sobre eles, pacífico. O robô retirou a agulha e cobriu o furinho com um pedaço de algodão, segurando o menino pelos ombros, olhando para seu rosto desfalecido. E eles esperaram. E esperaram. E esperaram.

Boombox #3: A Thousand Suns {Linkin Park}

Nunca gostei muito do Linkin Park (só no começo, mas depois ficou chato), até que eles começaram a fazer um estilo mais leve e mais eletrônico. Lembram do primeiro filme de Transformers? Pois bem, eles viraram favoritos da galera do filme e marcaram presença nas trilhas sonoras dos posteriores, até que, com o último , fizeram de Iridescent um single (para o filme dos robôs, claro). Desde de Burning in the Skies que tenho passado a desgostar menos deles, e então vieram os outros singles do espetacular A Thousand Suns, e foi ao escutar Iridescent que pensei "não posso deixar de conferir esse álbum". 


Pois bem, apesar das nove faixas e dos seis interlúdios, totalizando o total de quinze, a atmosfera do trabalho pega o ouvinte de uma forma incomum ao Linkin Park. A batida está mais leve e mais contagiante, e para matar as saudades dos tempos em que o Chester podia fazer guturais, a brilhante Blackout mostra que ele ainda tem capacidade de gritar como uma menininha com muita testosterona (sei lá se isso é um elogio, mas é o que parece)! As músicas que realmente me impressionaram aqui foram Robot Boy, Iridescent e Waiting for the End, mas claro que vale muito a pena baixar a versão completa (com os interlúdios, pois escutá-los sempre torna a atmosfera mais densa, mais gostosa de ser percebida).

Uma outra coisa legal desse álbum é que parte da renda arrecadada com suas vendas é revertida em prol dos distúrbios causados pelos desastres naturais no Japão. Dá vontade de comprar, mas o preço, até hoje, quase um ano após seu lançamento, é salgado. 

Para finalizar com chave de ouro, os singles de A Thousand Suns:

Burning in the Skies (international version)

Waiting for the End (HD)

Iridescent (HD/ From Transformers: Dark of the Moon)

The Catalyst (HD)

One

To look into your eyes
To stare at your smile
To hear your voice echoing in my mind
To feel your heat holding my whole body

To walk around with you
To laugh of the view
To hear your words at a desperate moment
To talk about the scars and our confidences

The only one is you
You
And I'm not trading it for nothing
The only one is you
You
And I'm not losing it for a storm

Wherever you go
Whatever you do
Remember I'm with you

The only one is you
You
And I'm not running to another trues

No, I'm not holding it for the true
I'm only beside because it's you
I'm not losing it because of trues


Olhar em teus olhos
Mirar teu sorriso
Escutar tua voz ecoando em minha mente
Sentir teu calor envolvendo todo meu corpo

Passear contigo
Rir da vista
Ouvir tuas palavras em um momento de desespero
Falar das cicatrizes e nossas confidências

O único é você
Você
E não troco isso por nada
O único é você
Você
E não perderei isso por um tumulto

Onde quer que você vá
O que quer que você faça
Lembre que estou contigo

O único é você
Você
E não corro para outras verdades

Não, não mantenho isso pela verdade
Apenas estou ao lado porque é você
Não perco isso por causa de verdades

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Curso superrápido de como acompanhar um blog

Sempre recebo reclamações de amigos e conhecidos dizendo que não sabem como seguir meu blog, que não têm um blog para realizar atividades ordinárias e bla bla bla. Acontece que essas pessoas andam muito mal informadas, e agora terão todas as suas dúvidas esclarecidas. Vamos lá? 

1° PASSO: Acesse o blog desejado e espere carregar. Preste bastante atenção nos títulos das Gadgets (aplicativos como autor, seguidores, arquivo, etc.), pois se alguma não aparecer devidamente, você terá que atualizar a página.

2° PASSO: Procure pela Gadget seguidores (ou no caso dessa página, padawans) e, caso não apareça nada embaixo, atualize a página até que as informações fiquem visíveis. O Blogger tem desses problemas, fazer o que, né?


3° PASSO: Tá vendo ali, marcado de vermelho? É ali! Agora vem a parte mais fácil. Hoje em dia quase todo mundo tem uma conta do Google, que te dá acesso a vários sites como Orkut, YouTube e Blogger! Resumindo, quem tem uma conta do Google, automaticamente tem uma conta no Blogger (isso quer dizer que, para gerenciar sua conta nesse site, não é preciso fazer um blog. Basta acessar, digitar seu e-mail e sua senha da conta Google e pronto!). Então, agora basta clicar naquele botão azul logo abaixo de padawans, onde se lê participar deste site. Uma outra janela vai se abrir.



4°PASSO: Pronto, é essa janela que vai aparecer. Aqui você decide se segue o blog publicamente, para que todos possam ver sua foto ao lado dos outros seguidores, ou se quer seguir de maneira privativa, sem que saibam disso. Em seguida basta clicar em seguir este blog e, na próxima página, pressionar concluir. Pronto! Agora, sempre que o autor postar qualquer coisa, você será notificado por e-mail no mesmo instante.

Difícil? Quer um guia mais prático que esse? Sinto muito, mas não está disponível no mercado! Espero que isso sirva para que muitos outros blogs interessantes, não apneas o meu, possam contar com a participação de muitos leitores interessados!

domingo, 21 de agosto de 2011

O Chamado de Cthulhu

A pronúncia, segundo o jogo Call of Cthulhu, é algo como kuh-THOO-loo. Em português a pronúncia mais aproximada é katuuluu. De qualquer forma, o próprio Lovecraft brincava com seus amigos, ora pronunciando de um jeito, ora de outro.

Para quem ainda não conhece H.P. Lovecraft, que criou toda uma mitologia em torno de suas criações, O Chamado de Cthulhu é o conto ideal para ser iniciado. Com uma atmosfera sombria, o autor descreve como em um diário as investigações feitas por seu personagem fictício a partir dos estudos de seu falecido tio, que entre muitas outras coisas deixou uma caixa cheia de recortes de jornal, anotações e um assombroso relevo que exibia um ser com cabeça de polvo, corpo bípede escamado e asas de dragão. As dezoito páginas que se estendem deixam mesmo o mais experiente leitor impressionado, com aquelas idéias na cabeça durante horas, talvez dias, ou mesmo a eternidade. 


A forma como Lovecraft capta os elementos verossímeis e os explora em uma realidade paralela é singular. Não costumo ler descrições e ter a perfeita imagem das intenções em mente, mas dessa vez posso contestar. As únicas cenas que não consegui captar com exatidão, e que percebi não serem necessárias interpretações fiéis, foram as que descrevem R'yleh e toda sua geometria errada, "algo que não pode ser desse mundo nem de qualquer outro mundo são". 

Descobri O Chamado de Cthulhu através de um jogo homônimo, Call of Cthulhu, apresentado a mim por um grande amigo e corretor, Gabriel Hermes. A resenha que li tratava do jogo como defeituoso quanto a programação - mas afinal, que jogo ou software não tem bugs? -, mas inigualável nos quesitos roteiro e jogabilidade. O autor sempre frizava sua paixão por Lovecraft e quanto o game tem de suas obras (não é á toa que o título remete ao do conto), e impressionado com vídeos e com a atmosfera única, resolvi pesquisar sobre o criador dessa realidade fantasticamente mortal. 
Encontrei no site do jogo um link para uma página inteiramente voltada ao autor, sua vida e seus trabalhos. Apesar de meu conhecimento da língua inglesa, percebi que não seria fácil conferir seus contos com toda a profundeza que eles transmitem, então procurei no 4Shared e encontrei um arquivo pdf contendo 59 textos em português, além de outros interessantíssimos, como o Necronomicon ilustrado (em espanhol, porém vale muito a pena dar uma olhada) e uma versão gráfica de O Chamado de Cthulhu.

O conto inspirou-me a escrever um parágrafo do que um dia pode vir a ser um romance, mas seria melhor, antes de falar precipitadamente, estudar mais da impressionante cultura Lovecraft. Por equanto exponho esse textículo para que você tenha uma noção de como é O Chamado de Cthulhu.

O jovem despertou de seu mais tenro sono assustado e pingando de suor. As imagens perturbadoras que acabara de presenciar ainda eram frescas em sua memória, fazendo seu coração dar saltos sempre que lembrava delas. Não entendia o que aquele sonho assombroso queria dizer, e no momento não fazia a mínima questão de descobrir. Sentia-se isolado naquele quarto escuro, sua respiração arfante ecoando em seus tímpanos de forma peculiar. Olhou ao redor com cautela, temendo enxergar alguma forma fora do comum em algum canto do aposento, ou mesmo próxima a ele, mas nada além do que estava lá quando deitou-se para dormir foi localizado. Sentiu que sua respiração aos poucos voltava ao normal, assim como o ritmo impaciente de seu coração. Os lençóis pesavam agora que encharcados de suor, e seus cabelos grudados na testa alva estavam deixando-o agoniado. Assim, jogou os lençóis de lado e pôs os pés no chão, arrependendo-se do ato no mesmo instante. O chão era frio e trouxe de volta a sensação de desespero. As imagens do recente sonho ainda povoavam sua mente, e agora que intencionava sair do conforto de sua cama, ficavam cada vez mais nítidas. Os barulhos invulgares que ouvira também lhe ocuparam os pensamentos, e o medo tornou a povoar seu peito. Fechou os olhos com força, a fim de espantar aquelas lembranças horrendas, mas quando os abriu de novo, a nitidez com que as sentia ficou mais forte. Decidiu então recolher seus pés para cima da cama, e escondeu seu corpo de volta nos lençóis ensopados. Fechou os olhos mais uma vez, agora com mais força, e os pilares escuros que emergiam do mar pareciam mais próximos. Apesar da escuridão, podia distinguir formas nadando nas águas, aparentemente indo a seu encontro. Queria fugir dali, correr para qualquer outro lugar longe dali, porém não conseguia se mexer, tão impressionado que estava. Sentia um desespero iminente, como se estivesse caindo de um precipício. Como se estivesse prestes a morrer.



 

sábado, 20 de agosto de 2011

{The Prodigy} trilha sonora

Sei que pode parecer ridículo, afinal, muita gente já me disse que era, mas quando escrevo, gosto de fazer uma trilha sonora (escolho e arrumo tudo direitinho) com músicas que me inspiram ou lembram a história. Com The Prodigy não podia ser diferente, então deixo aqui a tracklist, já que não consegui armazenar o arquivo zipado no 4Shared para facilitar a vida de todos os interessados.

01. save the world (extended mix) - swedish house mafia
02. children - robert miles
03. fireflies - owl city
04. heavenly star (glorious remix) - genki rockets
05. porcelain - moby
06. scream, fly, dream - tatu
07. hello - evanescence
08. have no fear - bird york
09. long lost child - mindy gledhill
10. secret of the forest - yasunori mitsuda
11. bolero de ravel - maurice ravel
12. robot boy - linkin park
faixa bônus: o homem moderno - o jardim das horas

OBSERVAÇÕES: A faixa seis é de uma banda de música eletrônica russa chamada Tatu, que não tem relação com a popular t.A.T.u. A faixa nove pode ser encontrada no álbum Feather in the Wind e a dez faz parte da trilha sonora do jogo Chrono Trigger. Caso interesse a alguém baixar as faixas e não as encontre em avulso, deixo disponíveis os links nos quais encontrei os arquivos completos (o que aconteceu com as duas faixas mencionadas por último).

Chrono Trigger OST 
Feather in the Wind (Mindy Gledhill) 
O Homem Moderno (O Jardim das Horas)

{The Prodigy} Capítulo cinco


A leitura de C132 não durou muito. Após escanear o HD, Luz voltou a pairar pacífico sobre eles. O garotinho olhou do robô para ele e dele para o robô, curioso. A máquina retribui seu olhar, fria, insensível. 57 tinha certeza de que agora ele sabia tudo sobre aquele lugar e sobre ele próprio, cujas dúvidas latejavam em sua mente, ávidas por respostas. Sustentou o olhar do ciborgue por um momento, esperando. Como ele nada disse, resolver começar.
        
- E então? – Sua voz meiga soou baixa, tímida. – O que há armazenado nele?
         
- Bem. – C132 parecia levemente grave, para um robô imparcial, frio, livre de emoções. – Esse hardware arquiva um amontoado de informações referentes ao projeto Neo homo. Este laboratório é o principal centro de pesquisas do projeto, e o complexo e sua renda são inteiramente voltados para as pesquisas.
         
A mente jovem porém inteligente de 57 logo juntou as peças. Neo homo era um termo latim que podia ser traduzido como novo homem, então era óbvio que esse projeto visava a criação de um novo ser, uma raça humana melhorada. Logo, ele e seus irmãos, tão fisicamente diferentes dos outros habitantes do complexo, submetidos a testes e exames de sangue rotineiros, eram essa nova raça. Qual o objetivo de tudo isso, não tinha idéia, mas sentiu-se estranho por pertencer a outra raça – uma nova raça. Não sabia descrever tal sentimento. Era uma mistura heterogênea de mágoa, solidão e superioridade. Principalmente solidão.
         
- Em que consiste esse projeto? – perguntou, cabisbaixo.
         
- Estudar e aprimorar a raça pura descoberta há mais de trinta anos.
         
Agora tudo que o menino começara a entender voltava a ficar sem nexo. Ergueu sua cabeça, olhando nos olhos sintéticos da máquina, extremamente confuso.
         
- Como assim “raça pura descoberta”?
         
C132 estava bem ágil. Provavelmente porque essas perguntas eram simples, uma vez que as respostas para elas já estavam armazenadas em sua memória.
         
- Há exatos 38 anos, uma mulher deu a luz a uma criança inteiramente saudável. Essa criança era geneticamente perfeita, imune à maioria das doenças conhecidas pelo homem. Seu QI era superior ao de muitos cientistas como Einstein e compositores como Mozart. Era fisicamente estável, conseguindo excelentes resultados nos esportes e exercícios. Era um humano perfeito. A partir da descoberta dessa criança, um grupo de cientistas acreditou serem capazes de dar continuidade a essa linhagem sem miscigená-la, e ao iniciarem estudos a respeito de seus genes, fundaram a Corporação Kronos, investindo no comércio farmacêutico para sustentar as pesquisas dessa nova raça.
         
“ O primeiro espécime baseado na criança perfeita foi criado mais de dez anos depois, utilizando um óvulo oco e o material genético coletado anteriormente. Seu desenvolvimento intra-uterino foi um sucesso, mas não sobreviveu muito após o nascimento.
        
- Era um clone? – interrompeu 57, perplexo. Ouvira falar de clones apenas teoricamente, nas aulas, e não achou que, mesmo com os avanços científicos atuais, fosse permitido clonar pessoas.
        
- Sim, um clone. Porém, essas pesquisas feitas pela Corporação Kronos eram ocultas. O complexo Foi construído no meio de um terreno de mais de vinte hectares, a fim de proteger sua existência ao máximo. Atualmente a criação de clones humanos é proibida pelo conselho de medicina.
        
Agora o jovenzinho começava a entender porque nunca saiam dali. Nunca realmente se importou com isso, mas agora fazia mais sentido, e era de certa forma, perturbador. Passar por cima de leis criadas para o bem, para impedir abusos, tudo isso para dar continuidade a uma raça pura. 57, em sua mente jovem, via isso como egoísmo e mania de grandeza. Até agora não via razão para esses estudos e a criação daquele complexo. Claro que todos devem ter ficado impressionados com a tal criança, mas isso não justificava seus atos futuros.
         
- Desculpe, C132. – disse, solene. – Continue, por favor.
         
- Ah, claro. – O robô fez uma pequena pausa, lembrando-se onde parara. – Muito bem. Após o fracasso do primeiro espécime, os cientistas responsáveis pelo projeto fizeram mais estudos e então, após mais alguns anos, conseguiram dar vida a mais um clone. Esse teve seu desenvolvimento intra-uterino bem sucedido e nasceu forte e sadio. Ao atingir um ano de vida, acreditava-se que sobreviveria tanto quanto a criança perfeita, e para ter certeza, passaram a realizar testes de sangue regularmente. Também mudavam o cardápio da nova criança para avaliar sua adaptação a diferentes alimentos. Essa criança foi batizada por seus criadores de 01.
         
“ Quando 01 atingiu seus dez anos de vida, os cientistas acharam prudente criar outro espécime, dessa vez aprimorando os genes, e assim fizeram sucessivamente, mais 56 vezes, sempre acompanhando as crianças de perto, realizando exames de sangue rotineiros, realizando testes variados para analisar suas capacidades físicas e   mentais.
         
O menino não conseguia esconder seu espanto frente aquelas revelações. Então ele, o último de sua geração (já que após 01 repetiram o processo 56 vezes), assim como seus irmãos, não passavam de experimentos. Todos aqueles testes e exames, as mudanças no cardápio e seus acompanhantes. E então teve um estalo. Aquela mulher doce e gentil que sempre o acompanhava não devia ser qualquer uma. Para estar ali, devia ser graduada, especializada, mestrada e doutorada em genética. Ela não devia ser tão boa daquele jeito à toa. Embora gostasse muito dela e sentisse sua falta na desolação que virou aquele lugar, agora entendia que toda essa proximidade era para melhor entender os resultados, ou era o que sua mente jovem pensava. Ela o chamava por um nome, o qual acreditava não estar registrado naqueles arquivos, mas só em lembrar o dela, já era bastante. Ergueu seu olhar mais uma vez, decidido.
         
- Qual o nome da minha responsável?
        
 C132 permaneceu a fitá-lo por um momento, processando a informação. Nos arquivos que copiou de Luz não constava o termo responsável, e sim semelhante.
         
- Você quer dizer sua tutora?
         
- É, isso mesmo.
        
- Elizabete Hermann. Doutora em engenharia genética pela Universidade da Capital.
         
As primeiras sílabas daquele nome – Eli – despertaram lapsos na memória de 57. Eli era como a chamava, e raramente soprava Liz ou Iza. Vários momentos dele pronunciando seus apelidos voltaram-lhe à mente de uma vez só, como uma cachoeira. Também lembrou que aquele simpático senhor que recolhia seu sangue era o Dr. Kepler, e até lembrou os nomes de seus vários irmãos, pelo menos os que via, pois dos outros trinta e poucos, nunca teve notícias. Não saberia da existência deles se não tivesse entrado ali e visto Luz. Aliás, nunca saberia de nada disso que acontecia naquele lugar se não tivesse lembrado aquele dia da coleta de sangue e insistido para entrar naquele laboratório. Mesmo lembrando muito agora, sabia que não era tudo. Ainda não sabia seu nome, aquele pelo qual era conhecido pelos irmãos e cientistas para ocultar o misterioso número 57, que encheria sua cabeça de perguntas. Mesmo tendo muitas respondidas, um número igualmente grande permanecia sem retorno, como os motivos que levaram a Corporação Kronos a dar continuidade ao estudo do projeto Neo homo, o que aconteceu com seus outros irmãos e o que aconteceu com todos. Por que ele era aparentemente o único ser de carne e osso naquele lugar? Seria aquele mais um teste para avaliar suas capacidades físicas e mentais?
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