"Morena caminhava a passos curtos em sua direção, a cabeça baixa fazendo seus cabelos caírem sobre os olhos, dando-lhe um aspecto sinistro. Apesar das dores, o pulo que o coração do homem deu foi suficiente para que corresse até a porta. Quando ficou de costas para a mulher, porém, suas pernas ficaram pesadas como se tivesse passado o dia inteiro de pé e para piorar, sentia que ela apressava-se a seu encontro muito mais rápido. Um barulho insuportável tomou conta de sua cabeça, como se uma fera rugisse ao pé de sua orelha. Seu desespero por alcançar a cada vez mais distante porta aumentou tão absurdamente que seu coração, a qualquer momento, faria um buraco em seu peito e sairia-lhe do corpo. Sentia Morena cada vez mais perto, como se a própria morte estivesse vindo lhe pegar, até que suas mãos tocaram o metal quente da maçaneta. Agora seu corpo inteiro doia, mas as batidas colossais de seu coração deram-lhe forças para agarrar-se à porta, abri-la e sair. Quando pisou no corredor cujas dimensões não conseguia imprimir (parecia bem mais apertado do que lembrava), seus sentidos retornaram todos de uma vez e suas pernas ficaram tão leves que logo descia as escadas e saia para o ar frio e o céu cinzento da rua."
"Asas de Ângelo" CAPÍTULO TRÊS / Aquela voz que desperta bons sentimentos
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